Embora seja possível dizer que a revista em questão não tem a “raça” como temática.

Embora seja possível dizer que a revista em questão não tem a “raça” como temática

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Embora seja possível dizer que a revista em questão não tem a “raça” como temática, bem como são raras as revistas que a tem (como a Raça Brasil), de modo geral, a mulher negra aparece de forma não circunscrita e em situações específicas.  Na maioria delas por sua fama ou beleza (atrizes, modelos ou cantoras). Neste caso, pode-se dizer que a variável raça, quando raramente aparece, se dá por meio de estereótipos esta respaldada pela análise quantitativa exposta no quadro na página 30.

Essas constatações remetem às formas ambíguas de discriminação no país. A opressão midiática a que se submetem as mulheres negras pode ser compreendida como uma articulação entre sexismo e o mito da democracia racial propagado. A noção da teoria do branqueamento e da invisibilidade do negro na sociedade brasileira favorece o posicionamento no qual a mulher negra está compelida na mídia de um modo à dominação racial e de outro à machista.

Nesse sentido, pode-se dizer também que o binômio “maioria-minoria” parece prevalecer com força na sociedade brasileira. Maioria e minoria aqui entendidas não em termos numéricos, mas, sim, nas relações de poder. Ou seja, embora os dados do IBGE digam o contrário, os negros ainda são vistos como minoria no país. No caso das mulheres negras, então, a situação se agrava ainda mais, como já apontado pela revisão teórica nos primeiros capítulos desta pesquisa. Com isso, elas continuam desvalorizadas e não inseridas na cultura dita da maioria, num processo continuo de exclusão e discriminação.

Os discursos da revista, tanto imagéticos quanto verbais (ou pela ausência de ambos) revelam que tratar as questões que envolvem a temática da mulher negra ainda é um desafio para publicações femininas. As mulheres negras, como já pontuadas, são apresentadas e representadas por meio de aparições pontuais e deslocadas do restante da publicação, como se estivesse ali para cumprir cotas, revelando, de certa forma, um desconforto dos editores e dos jornalistas para tratar do assunto.

No geral, o público-alvo focado pela Nova Cosmopolitam é a mulher branca, sendo a branquitude retratada como normativa. A revista produz um discurso que carrega todas as ambiguidades do racismo brasileiro (afirmação por meio da própria negação) e do mito da democracia racial. A revista Nova não representa a mulher negra em suas pautas em um status de inferioridade apenas, mas sim de invisibilidade. 

A dificuldade de representar a mulher negra torna-se tão evidente que, mesmo diante de uma modelo internacional que se autodeclara e é popularmente conhecida como negra (Naomi Campbell), a revista a caracteriza como morena. Por outro lado, embora possa parecer contraditório, na publicidade, percebe-se um diálogo direto da raça com a “beleza”, com a “moda”, com a “saúde”. A imagem da mulher negra é utilizada de forma constante como garota propaganda explicitando, de certa forma, que ela está inserida como público-alvo da revista para o setor publicitário, passando uma ideia de uma mulher negra apta a adquirir a revista e produtos nela anunciado.

A pesquisa conclui, desta forma, que o conteúdo acerca da mulher negra na revista Nova Cosmopolitan é ambíguo e insidioso, assim como o são as relações raciais em nossa sociedade E as pautas executadas pela publicação parecem apenas integrar o marketing social da revista para preservar a imagem do politicamente correto ou para atender uma demanda por parte das leitoras, como é o caso da edição de janeiro de 2011 (que integra a análise quantitativa deste estudo). Neste caso, embora a edição não integre o recorte da análise qualitativa, vale ser ressaltado e usado como exemplo por sua relevância e peculiaridade. Nesta edição é utilizada a foto da modelo internacional Noami Campbel para ilustrar um passo a passo de como fazer uma maquiagem, em seu discurso a revista se posiciona e deixa claro que só o faz para atender os anseios das leitoras “Atendendo a pedidos, vou dar uma aula especial só para Negras.” Essa frase demonstra que sim, a revista tem leitoras negras que fazem questão de matérias voltadas para suas características étnicos raciais, mas a revista só as fazem e as reconhecem como público alvo quando há uma pré demanda explicita para ofertar a matéria.
A invisibilidade da mulher negra é constatada em todas as edições analisadas. Mesmo quando ocupa um espaço imagético de destaque não é mensurada em suas chamadas e textos a sua etnia como critério de agregação de valores como é comumente utilizado para caracterizar as loiras, por exemplo. A posição que a mulher negra ocupa nas matérias e na publicidade são distintas, mas igualmente perversas. 

Etiene Pereira Martins-
Graduada nos cursos jornalismo e Publicidade Propaganda.
Colaboradora da Revista Raça Brasil desde maio de 2010

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