REFERÊNCIAS ÉTNICAS AFRICANAS NA MODA BRASILEIRA

REFERÊNCIAS ÉTNICAS AFRICANAS NA MODA BRASILEIRA

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REFERÊNCIAS ÉTNICAS AFRICANAS NA MODA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA EM DUAS LEITURAS: GOYA LOPES E WALTER RODRIGUES

INTRODUÇÃO

Observamos que denominações como étnico, tribal, primitivo, ocupam espaços privilegiados nas referências das histórias moderna e contemporânea da arte, do design de objetos e da moda ocidental.
Encontrados nos editoriais das principais revistas, nos releases (textos disponíveis para publicação na imprensa, por meio dos quais as marcas apresentam seu trabalho ao público consumidor), o termo étnico aparece em quase todas as temporadas da moda nacional e internacional; nas coleções assinadas por grifes e estilistas independentes e também pelas grandes lojas de departamentos. De estação para estação o étnico ressurge como tendência.
Mas qual é o conceito do “étnico” que está implícito no produto de moda, que referências são utilizadas na elaboração desse produto e como ele é consumido e divulgado hoje no mundo globalizado?
Sentimos por vezes que o conceito e as especificidades que envolvem o étnico são deixados de lado em nome de uma visão pasteurizada e desprovida de um envolvimento maior pela pesquisa.
No Bureau de Tendências do Verão 2012/ 2013, editado pelo SENAC, o étnico é apresentado como um dos temas presentes na próxima estação. Em meio a várias outras informações, há textos e imagens que se propõem orientar estilistas e empresários do mercado de moda na busca de referências de pesquisa em relação ao tema étnico. As descrições, um tanto quanto abrangentes, superficiais e confusas sobre o termo e suas possíveis fontes de inspiração, serão transcritas a seguir, tal qual se lê na publicação:

TENDÊNCIA - “O impacto da forte globalização acaba por despertar um sentimento nostálgico de volta às raízes. As diferenças entre povos e culturas ao redor do mundo são, agora, celebradas de maneira a respeitar e valorizar o “local”, sem deixar de estar integrado ao global. A sociedade moderna presta suas homenagens ao tradicional enquanto segue em frente no caminho natural da evolução. Neste verão vimos nas passarelas o encontro entre o exotismo dos países africanos e a vivacidade dos povos latino-americanos. O resultado é uma mistura apimentada, sensual e super autêntica”.
INSPIRAÇÃO – Savanas africanas, safáris, Tahiti, México, Guatemala, Espanha, Frida Khalo, pinturas de Henry Moore e Paul Gauguin, reserva Hopi, contadores de histórias, cordel, adornos utilizados para rituais de magia, casamentos e acampamentos ciganos, cerâmicas ancestrais.
(Bureau de Tendências do Verão  2012/2013, SENAC)

Seguiremos reunindo elementos que nos levem a compreensão de como o conceito do étnico africano se manifesta na cultura material brasileira contemporânea, na tradução do design de moda.
Iniciamos essa prospecção focalizando na História da Arte do Ocidente o interesse demonstrado por artistas em relação ao contato com diferentes culturas, as chamadas “culturas exóticas ou primitivas”, que ocorreram na Europa, mais precisamente em Paris, ao final do século XIX; e, que foram determinantes para que artistas e designers “aprendessem” outras formas de olhar. Aqui nos interessa a “nova imagem” como fio condutor de transformações, à medida que se mesclou ao que já era conhecido gerando um terceiro resultado.
A começar pelo Japão e em seguida pela África, a visão de mundo eurocêntrica curvou-se em reverência ao surpreendente conteúdo formal que iria revolucionar os conceitos de arte até então vigentes, inaugurando em síntese a Arte Moderna.
Utilizaremos conceitos tais como os de cultura (material e imaterial), pós-modernidade, globalização, sincretismo, mestiçagem e do hibridismo a fim de que nos seja possível delinear reflexões sobre a utilização de referências culturais e formais do étnico africano percebidas no uso da cor, das padronagens de estamparia e no produto final do design de moda em nosso país.
Para tanto foram realizadas entrevistas para a elaboração das leituras do trabalho de dois designers de moda brasileiros contemporâneos: Goya Lopes e Walter Rodrigues, que tem em comum, cada qual em seu momento e de uma determinada maneira, o olhar voltado para o continente africano. Por meio desses dois estudos de caso, teceremos nossas reflexões estabelecendo outros parâmetros que nos propiciem entender um pouco mais de como se dá essa mixagem cultural no desenvolvimento do produto de moda nacional. Falaremos sobre a vida e a formação dos designers, dos processos de criação de cada um, do seu entendimento sobre o conceito de étnico e mostraremos, por imagens, suas respectivas produções. A pesquisa será concluída com as primeiras reflexões a respeito das referências da cultura afro-brasileira trazidas para o design de moda hoje. Por ser este um assunto bastante extenso e de significativo interesse, daremos continuidade ao estudo do 

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1 comentários

  1. O texto acima é um trecho da introdução da dissertação de mestrado de Sylvia Rodrigues,Mestre em Design de Produto pelo Programa de Pós Graduação em Design da UNESP,Bauru,SP,sob a orientação da Profa.Dra.Marizilda dos Santos Menezes.Defendida em setembro de 2012.

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