10:45
Cresce número de empreendedores negros, mas
desigualdades persistem
http://www.institutoiab.org.br/cresce-numero-de-empreendedores-negros-mas-desigualdades-persistem/
Pela primeira
vez, o número de empreendedores negros superou o de brancos no Brasil. Pesquisa
feita pelo Sebrae aponta que, entre 2002 e 2012, o percentual de micro e
pequenos empresários que se autodeclaram pretos ou pardos subiu de 44% para
50%.
A mudança reflete
transformações econômicas e culturais. A ascensão da chamada nova classe C –80%
negra, segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência–
significou tanto a expansão do mercado consumidor como do empresariado negro.
Culturalmente,
essa ascensão traduziu-se em demandas por produtos e serviços específicos para
esse público.
“Eu acho que tem
muita relação com as ações afirmativas. Isso se reflete na economia, porque [o
negro] vai atrás de produtos que reafirmem essa identidade”, avalia Adriana
Barbosa, 37.
Ela é a
idealizadora da Feira Preta, evento anual que reúne empreendedores negros.
“Para além do contexto histórico, a feira foi uma oportunidade de empreender em
um mercado no qual víamos potencial para crescer.”
Para Luiz Barretto,
presidente do Sebrae, a segmentação é uma aposta acertada. “Nós devemos
explorar as oportunidades [que vêm] dessas diferenças”, afirma.
Foi a
participação na Feira Preta que convenceu Cristina Mendonça, 57, e Ana Paula
Xongani, 27, de que existia mercado para o negócio de roupas e acessórios com
estética afro-brasileira. Mãe e filha são donas da Xongani, loja que vende
peças produzidas com tecidos importados de Moçambique. “Vimos que havia
carência no mercado para essa população que quer um referencial de negritude”,
diz Xongani, que enxerga seu trabalho como forma de militância.
Longo caminho
Embora maioria,
os empreendedores negros concentram-se em negócios pequenos e em ramos de menor
lucratividade, como agrícola e construção, enquanto os brancos predominam em
indústria de máquinas e serviços de saúde (veja abaixo).
A renda média dos
negros empreendedores melhorou, mas a dos brancos continua 116% maior (em 2002,
a diferença era de 134%) e, dizem os próprios empreendedores, o acesso a
crédito bancário ainda é um desafio. Xongani conta que ela e a mãe economizaram
por dois anos para conseguir financiar a importação dos tecidos, porque não
conseguiram financiamento em bancos. “As
pessoas não acreditam no nosso negócio porque não conhecem, não veem o valor
que nosso trabalho tem. É um racismo institucional.”
Patrícia de
Jesus, 35, também tem problemas de acesso a crédito. Ela é dona da empresa de
recursos humanos Empregueafro, que tem entre os clientes empresas de grande
porte, como o Carrefour.
A empresária faz
parte do Projeto Brasil Afroempreendedor, uma parceria entre o Sebrae e o
Instituto Adolpho Bauer para capacitar 1.200 empreendedores negros em 12
Estados no desenvolvimento de seus negócios.
“A maior parte
dos afroempreendedores ainda é de pessoas pequenas e com sonhos pequenos,
porque não se veem com a possibilidade de galgar grandes fatias de mercado”,
diz Adilton de Paula, coordenador do projeto.
Para ele,
alcançar a igualdade racial passa também por criar uma elite econômica negra.
“Nós temos que criar uma elite de sucesso para dizer ‘nós também podemos’. Há
uma barreira cultural [que diz o contrário]”, afirma.
0 comentários
Continue sua contribuição!