Farm divulga coleção de inverno e
reascende debate sobre a
representação da mulher negra
Editado por Mulher Negra
e Cia | 17/01/2015
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A marca de roupas
Farm apresentou a sua nova coleção inspirada na cultura negra para o inverno
2015, a Black Retrô. Segundo a diretora criativa, Katia Barros, a coleção foi
pensada numa forma de reconhecimento à cultura negra que faz parte da história
do Brasil. “A coleção foi pensada sobretudo pra reconhecer a beleza e a
elegância da cultura negra. A ideia de trazer o retrô dentro da cultura black é
resgatar a elegância do passado, é um resgate à memória”.
Os responsáveis
pelos cliques foram os fotógrafos Raphael Lucena e Carol Wehrs, que retrataram
verdadeiras obras de arte. Parte da coleção foi fotografada nos Lençóis
Maranhenses. “Lençóis trouxe uma estética de arte e fotografia muito precisa
nessa campanha, além disso, o lugar tem uma natureza exuberante e uma paisagem
que muitas vezes fica monocromática, pois podemos ver só o branco da areia ou o
azul do céu e das águas, diferentes visões que fazem toda a diferença”, explica
Katia e Carlos, diretor de branding.
A coleção está
realmente linda, é de encher os olhos. Mas há ainda algo que nos incomoda
quando o assunto é mulher negra e a moda. Apesar dessa iniciativa, a Farm
esteve envolvida com um recente caso de apropriação cultural e racismo ao postar
em seu Instagram uma foto de uma modelo branca vestida de Iemanjá, símbolo de
religiões de matrizes afro. O caso teve grande repercussão, pois o cantor de
rap Emicida criticou a postura da marca na foto divulgada.
Além desse
episódio, a Farm não é uma marca conhecida por retratar negras em sua coleção,
por isso fica a dúvida se o objetivo é realmente o de inclusão da cultura
negra. Acreditamos que iniciativas como essa sejam interessantes, mas enquanto
não existirem mulheres em coleções diversas de marcas como a Farm, o racismo
ainda será uma marca do universo da moda. Afinal, mesmo que presente, a mulher
preta em geral é escolhida para ensaios temáticos e específicos, mas não é
integrante desse universo.
Para a Black Retrô, a Farm alega que sentiu a necessidade de fazer uma coleção com a temática África desde que fizeram sua primeira viagem de pesquisa para o
continente. Mas afinal, o que é a África? Quais países foram visitados, qual é
a peculiaridade de cada cultura em que entraram em contato? Tratar a África
como um só país não é só um erro das marcas de roupas, mas esse conceito de uma
África distante e única é amplamente utilizado em editoriais de moda. Para a
estudante de Arquitetura e Urbanismo da PUC de Campinas, Stephanie Ribeiro, é um absurdo a maneira
como retratam um continente tão rico e diverso como África. “O negro em geral,
no Brasil ou no continente Africano, ele tem sempre uma história única e
consequentemente só é representado
quando é interessante em determinado contexto”, critica.
A beleza negra é
sempre retratada pelo viés da diversidade, entretanto, é preciso que seja cada
vez mais a regra de um contexto estético e político para que possamos
avançar nas representações da negra sem
cair na reafirmação de estereótipos.
Fonte: Que nega é essa?